quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Encontro com MV Bill na Cidade de Deus

De vez em quando ainda rolam alguns frilas como jornalista e aí... É sempre bom o exercício de ser jornalista. A gente conhece um monte de gente e fatos interessantíssimos aos quais não teríamos acesso de outro modo. Dizem que o jornalista é aquele cara que sabe de tudo um pouco, mas não sabe nada profundamente. É verdade! Mas que é fascinante, é.

Então, segunda-feira fui parar na Cidade de Deus - palco do famoso filme do Fernando Meirelles. Desavisada, em vez de ir pela Barra da Tijuca, muito mais rápido, fui passando por outras comunidades onde nunca havia estado antes: Tijuquinha, Rio das Pedras - onde fica o famoso templo do funk, Castelo das Pedras, e o cartaz dizia: 'nesta sexta, A Gaiola das Popozudas'! -, Jacarepaguá, Taquara, Freguesia, Anil... Quase 2 horas de viagem contabilizando os engarrafamentos. Mesmo assim achei tudo... Fascinante!

Na Cidade de Deus, fomos recebidas pelo Nino, produtor do MV Bill que é a cara do Lenny Kravitz. A entrevista foi feita no Coroado, como é conhecida a quadra em frente ao bloco de apartamentos onde MV Bill passou a infância e onde mora até hoje.

Lá pelas tantas ele aparece: 1,90m, braços com o diâmetro das minhas coxas, careca brilhante, sorriso perfeito em meio ao cavanhaque bem cuidado. As pessoas da comunidade o param para cumprimentar e saudar a casa 2 passos.

De tudo o que ele disse, o que mais chamou minha atenção foi a explicação para escolha de não ter ingressado no crime. Compartilho com vocês:

"Na comunidade, o crime não te chama de maneira direta, ostensiva. O traficante não te chama para trabalhar com ele. Mas eu via o meu pai trabalhar duro de manhã à noite e o único sapato que ele tinha era um chinelo de dedo. E via o traficante bem vestido, tênis importado, celular, carrão... Mas também via esse mesmo cara em situações nas quais eu não gostaria de estar, por exemplo, indo preso ou até mesmo morto. E o rabecão demora para vir buscar os corpos na comunidades, às vezes, o defunto fica ali exposto quatro, doze ou até mesmo 24 horas. No início é um choque, mas depois vira peça de decoração. E a gente tem tempo de refletir: ‘é isso que eu quero para mim?’ Eu decidi que não.”

Ficamos tão absorvidas com a conversa que esquecemos de tirar fotos com o Bill! Mas aqui vai um trecho do documentário Falcão - Meninos do Tráfico, realizado por ele e seus companheiros da CUFA, e exibido no Fantástico em 2006. Esse documentário foi o turning point na carreira do músico, ator - em cartaz em Malhação, na Globo -, autor de livros e empresário do Terceiro Setor, MV Bill.



3 comentários:

Mônica disse...

Valéria
Que interessante.
Voce fez uma excelente entrevista.
Conclusão. Tudo nesta vida tem opção. e ele optou coretamente enquanto poderia ter opatado pelo trabalho mais fácil. Mas ele tinha algo que muitos não tiveram o exemplo do pai.
com carinho MOnica

Anônimo disse...

Haha bichou pegou ...

Mônica,assim como exemplo do pai a leitura também o norteou.
São louváveis projetos, debates, assim como promove cultura.
Considero um exemplo p/moçada... mas

Ser honesto é obrigação inerente ao cenário.

Valéria Martins disse...

Tem razão, Fernandes.